quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ground Control to Major Tom

Acabo de ler o texto “Jovens, envelheçam!” no blog “O Idiota Feliz”, de Marcos Guinoza, que aborda o tema do suicídio adolescente entre jovens que gostam de pessoas do mesmo sexo. O desejo “proibido”. O medo de ser você mesmo que gera a auto-negação. O preconceito da sociedade. Estatísticas absurdas de um estudo da FIPE, de 2009, realizado em 500 escolas públicas brasileiras, onde os alunos entrevistados concordaram com as seguintes afirmações:

- “Eu não aceito a homossexualidade” – 26,6%
- “Pessoas homossexuais não são confiáveis” – 25,2%
- “A homossexualidade é uma doença” – 23,2%
- “Os alunos homossexuais não são alunos normais” – 21,1%
- “Os alunos homossexuais deveriam estudar em salas separadas” – 17,6%

Se alguém viu meu longa-metragem “Os Famosos e os Duendes da Morte” e conseguiu enxergar na estória o sofrimento de um garoto que está descobrindo sua sexualidade e sofre pressão moral na pequena cidade onde vive, meus parabéns. Esse é o mundo real. Não se toca diretamente no assunto, tampouco é explicitado em palavras. Porque muitas vezes o assunto não costuma vir à tona. A não ser quando alguém é morto ou torturado por querer ser quem ele é. Ou abandona a própria vida, por sentir-se “inadequado”. Ou seja, quando chega a um limite. Só que o preconceito através de meias palavras e gestos “sutis”, apesar de nebuloso, oprime igualmente. Não é necessário que alguém seja apontado e perseguido para ser considerado vítima do preconceito. Ouvi de algumas pessoas que assistiram ao meu longa, que elas não enxergaram o filme dessa maneira. Pois enxerguem! Enxerguem o que está por trás das imagens sendo mostradas, da estória da angústia de um garoto que só pensa em ir embora da cidade onde vive, porque ali nunca será aceito. “Longe é o lugar onde se pode viver de verdade”, ele escreve. Mas onde está o tão sonhado “longe”? E assim ele passa a procurar diversas saídas, entre elas, o suicídio. O SUICÍDIO!

O texto de Marcos Guinoza enfatiza que esse é um tema que não costuma ser abordado ou discutido, portanto eu grito: OLHEM AO REDOR. Hoje todos bravejam em seus twitters, facebooks, blogs e derivados. Estamos em plena guerra virtual. Bullying. Comentários racistas e preconceituosos. Descarados. Irresponsáveis. Discussões políticas grotescas. Amizades destruídas. E quando as pessoas se encontram na rua, sorriem felizes umas para as outras, como se não tivessem exposto seu lado mais obscuro e preconceituoso na rede. Como se a internet fosse mera brincadeira. Brincadeira virtual. No mundo real, deixam a vida levá-los em um mar de futilidades. Não querem discutir. Não querem se expor. Escondem-se através de máscaras. A garota paulista que foi indiciada por postar em seu twitter comentários preconceituosos contra os nordestinos. O que ela fez? Suicidou-se! Virtualmente, claro! Suicídio virtual. Pronto, apaguei, não existo mais. Nunca disse isso.

Só que aqui fora, alguns jovens sofrem na pele. E se decidirem pela mesma saída, não terão mais retorno. O corpo é nosso templo e permite que a alma tenha vida. O real acessa o virtual. Yonlu foi o jovem do sul que se matou na internet, ao vivo, asfixiado. Ele teve suas razões para deixar de existir aqui na terra. Na rede, ficaram suas músicas e seus desenhos. Sua expressão artística. No meu longa-metragem, a menina Jingle Jangle deixa as suas fotos e vídeos na internet e se atira da ponte. Imortaliza-se através de pixels, em um manifesto silêncio. Uma forma de gritar para o mundo que quer ser vista. Da maneira que ela escolheu. Naquela cidade.

Por favor, não liguem se amanhã vocês vierem me dar “oi” e eu não conseguir sorrir. É que eu não dá pra ignorar o que está acontecendo. De hipocrisia, já estou farto. E para quem quer acessar o texto de Guinoza: http://tiny.cc/931xq

“This is major tom to Ground Control.
I’m stepping through the door
And I’m floating in a most peculiar way…”
David Bowie

“Voe para longe!”
| E.F |